
Os meus pais ensinaram-me desde tenra idade que sempre que saísse com eles para um passeio ou os acompanhasse numa visita a casa de um familiar ou amigo, nunca, mas nunca, poderia fazer pedidos de coisas que visse, como os brinquedos que olhavam para mim nas montras das lojas por onde passávamos ou os chupas e os sugus que me acenavam e faziam crescer água na boca, ou aquelas bolachas e bananas que a tia tinha em casa. Estava proibida de pedir aos meus pais ou a estranhos o que quer que fosse, por isso, sempre que íamos passear só podia olhar e imaginar como me sentiria se tivesse acesso ao que gostaria de ter, ou como ficaria contente se tivesse aquilo que a minha prima tinha acabado de conseguir da minha tia depois de ter feito uma grande birra.
O tempo foi passando e fui-me habituando a nada pedir, as coisas que antes me deixavam a sonhar passaram a ser indiferentes, tinha construído uma arma para me defender da imensa frustração que sentia por ter que reprimir a minha vontade de pedir. Ainda hoje essa indiferença salta de vez em quando e as dificuldades em pedir o que quer que seja mantêm-se.