sábado, 6 de junho de 2009

O homem do casaco preto


Quando saia da escola não podia demorar-me em brincadeiras, tinha um determinado tempo para chegar a casa e não podia ultrapassá-lo, eram as regras que o meu pai estipulou e não eram discutíveis. Havia um dia ou outro que demorava uns minutos mais porque vinha com as minhas galochas a chapinar em todas as poças que apareciam ou porque os pontapés que eu dava à minha pasta que ia rebolando pela estrada eram mais curtos.


Certo dia a tentação foi maior, as minhas amigas propuseram ir para o parque infantil que ficava mesmo em frente à escola, eu já sabia que não podia ir, mas elas insistiram, era só um bocadinho e eu hesitante acabei por concordar, mas com a condição de só passar uma vez no escorregão e andar no baloiço um nadinha. Pus-me a correr para que desse tempo para tudo e ao atravessar a rua vi uma mota com um homem de casaco preto que vinha na minha direcção a grande velocidade, mas eu achei estar a uma distância que daria para atravessar, mas afinal não dava e a mota do homem do casaco preto bateu-me na cabeça, senti a pressão do embate e mais nada, desmaiei.


Quando recuperei os sentidos estava sentada na entrada de uma casa , rodeada de pessoas, com os meus joelhos vermelhos de mercúrio, a minha mãe em pânico a perguntar-me como me sentia e eu sem saber o que responder porque não percebia bem o que tinha acontecido.


Já em casa descobri que tinha sido atropelada pelo homem do casaco preto que pediu ao meu pai para não comunicar à polícia nem à sua família o sucedido, que pagava todas as despesas necessárias, mas que queria uma indemnização por ter estragado o seu casaco preto.

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