sexta-feira, 5 de junho de 2009

Máquina do Tempo


Irrompia pela noite o ruído dos passos cambaleantes da minha mãe, eram passos que não tinham propósito, eram passos vomitados por uma noite interrompida que não sabia como seguir. Eu acordava sobressaltada, tinha sempre dúvidas do seu significado, apesar de ocorrer muitas vezes, eu sentia cada uma delas como a primeira e muito ameaçadora.


Os passos da minha mãe estancavam em gritos abafados de angústia e desespero e as vísceras impunham a sua presença expelindo líquidos viscosos e coloridos, enquanto a minha mãe clamava por auxílio terreno e divino que não existia a não ser dentro de si.


Eu estremecia de medo, encolhia-me e tapava a cabeça com os lençóis desejando entrar numa máquina do tempo que me levasse para uma outra dimensão onde tudo fosse equilibrado. Os gritos da minha mãe silenciavam-se e voltava a ouvir os seus passos, agora arrastados, de volta ao quarto e à sua cama e o silêncio da noite impunha-se. Eu retomava os meus sonhos num sono meio desperto.

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