terça-feira, 2 de junho de 2009

Viva a Revolução


O dia 25 de Abril de 1974 não foi um dia igual aos outros, quando despertei pela manhã, a minha mãe disse-me que tinha havido uma revolução e que eu não podia ir para a escola porque podia ser perigoso, pois ela não sabia muito bem o que era aquela revolução e estava temerosa que algo de mau acontecesse. Mas eu não suportava a ideia de não poder ir para a escola, gostava tanto de aprender e ainda mais da minha nova escola e das minhas novas colegas, que decidi ir, a minha mãe ficou baralhada sem saber bem o que fazer e lá acabou por aceitar.

Saí de casa à hora habitual, vestida com a farda obrigatória do Liceu Carolina Michaelis, que consistia numa bata azul claro que tinha um botão cosido na parte da frente ao nível da cintura, que indicava o ano que frequentava e como era um único botão indicava que eu frequentava o primeiro ano. Fazia diariamente o percurso para a secção do Carolina Michaelis de eléctrico, que me deixava na Praça da República e depois ia a pé pela Rua dos Bragas que terminava mesmo em frente à escola, mas no dia da revolução o eléctrico não aparecia, as pessoas estavam impacientes e não esperavam, seguiam em bandos pelas ruas a falarem umas com as outras de uma forma que eu não percebia se era de contentamento ou de preocupação, mas uma coisa eu percebia, as pessoas não estavam iguais aos outros dias, estavam diferentes, parecia que se moviam com gestos mais amplos, das suas bocas saiam palavras e sons pouco habituais, notava-se uma leveza estranha, parecia que voavam.


Eu juntei-me a estes grupos e fui seguindo o percurso do eléctrico e quando cheguei à Praça da Republica onde se situa o Quartel General deparei-me finalmente com a revolução, e descobri que afinal aquela revolução era uma coisa boa, porque os tanques estavam na rua repletos de militares rodeados de milhares de pessoas, estavam todos contentes, e havia muitas flores, eram cravos vermelhos que eu tão bem conhecia, porque eram as flores que sempre dava à minha madrinha no domingo de ramos.


Quando cheguei à escola a porta verde de madeira estava fechada, afinal a minha mãe tinha razão, tinha havido uma revolução e não havia escola, mas não fiquei triste porque tinha gostado de ver a revolução.

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