
Voltar à escola depois das férias de natal não era nada fácil, porque a Maria, a Luísa e a Teresa exibiam orgulhosamente as suas roupas novas e descreviam ao pormenor a enorme quantidade de prendas que tinham recebido, assim como quem as tinha dado e ainda as prendas que tinham oferecido à mãe, ao pai, aos irmãos, à madrinha, ao padrinho, àquela amiga de infância, ao avô, à avó, aos primos da aldeia e restante família.
Na primeira semana de aulas depois do natal, não se falava de outra coisa que não fosse as prendas recebidas e oferecidas. Eu mostrava-me sempre muito interessada na descrição dos pormenores, chegando mesmo a explorar os pormenores dos pormenores, porque enquanto elas gastavam um tempo infinito a explicar e a mostrar as suas prendas eu ia adiando os pormenores das minhas falsas prendas, mas acabava sempre por chegar a minha vez, e claro, não podia ficar para trás, por isso, usava toda a minha imaginação, afinal de contas não tinha oferecido nenhuma prenda e só tinha recebido duas prendas da minha madrinha. Quase todos os anos lhes dizia que a minha família insistia em dar-me coisas úteis, tais como roupa interior, pijamas e coisas para o enxoval, prendas que não tinha que mostrar, descrevendo com imenso entusiasmo e pormenorizadamente todos os falsos presentes que tinha oferecido à minha mãe, ao meu pai, à minha irmã, à minha madrinha, ao meu padrinho, à minha avó, ao meu avô, à minha tia Mila, ao meu primo Bilo e restante família.