quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Curva da morte


Rebatiam-se os bancos da carrinha quatro éle bege e enchia-se a mala, agora maior, de garrafões de cinco litros vazios. Eu acomodava-me no banco dianteiro e partíamos em direcção à aldeia. O meu pai tomava o caminho de Lourosa que era mais curto, mas que tinha muitas curvas, por isso quando regressávamos com os garrafões cheios de vinho fazia o caminho de São João da Madeira, que embora fosse mais longo, era menos sinuoso. Num dia de chuva miudinha, à carrinha bege, deu-lhe para fazer patinagem mesmo a meio da famosa curva, conhecida por curva da morte. Em plena curva rodopiámos, rodopiámos, o meu pai agarrou-me com toda a força como que a querer proteger-me do desconhecido e assim nos mantivemos um tempo sem tempo e sem visibilidade até que a carrinha parou. Quando comecei a ver alguma coisa que fizesse sentido, nada mais tinha para contemplar do que a enorme parede amarela com letras vermelhas de uma garagem a poucos centímetros de mim.

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