sexta-feira, 27 de novembro de 2009

As mãos do meu pai


Gostava das mãos do meu pai, grandes, brancas e muito limpas. Costumava vê-lo cortar as unhas com o corta-unhas que estava guardado na mesinha de cabeceira do seu quarto, e limar as arestas mais angulosas. Não havia pai de nenhuma vizinha que tivesse as mãos tão bonitas como as do meu pai, eu achava mesmo que os pais das minhas vizinhas não tinham mãos, eram homens tristes, desesperados, que sentiam que não sentiam, transformando-se em amputações cambaleantes; enquanto o meu pai ostentava aquelas mãos decididas e vencedoras que se adaptavam na perfeição a tudo em que tocassem, com a certeza de que era capaz de mudar o mundo. A mim bastava-me ter a minha pequena mão envolvida pela sua para que todos os medos desaparecessem.

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