terça-feira, 9 de março de 2010

Rir ou não rir


Nunca o via rir muito, ao meu pai, mesmo quando aconteciam coisas que faziam rir ele esforçava-se para não o fazer, e quando tinha dificuldades em manter a seriedade da cara só lhe saía um arredondamento dos cantos da boca e um olhar mais rasgado. Sem perceber muito bem se rir era bom ou mau, porque o meu pai não ria e a minha mãe fartava-se de rir, comecei a estar atenta ao riso para saber quando podia rir. Descobri que o meu pai ria na aldeia, em casa do meu avô, quando se juntava com os irmãos e restante família, também ria bastante com os colegas do trabalho e ainda ria mais com os chefes; enquanto a minha mãe ria em quase todas as circunstâncias, com as vizinhas, na padaria e até mesmo sózinha em frente ao espelho quando se maquilhava. E assim, aprendi a rir de acordo com a proximidade, quando estava com o meu pai ria quando reparava que ele começava a esboçar um sorriso ou quando se ria abertamente e quando estava com a minha mãe ria quando tinha vontade e sempre que me apetecia mesmo que não houvesse motivo, quando estava com ambos a seriedade impunha-se, era salva pelas gargalhadas trapalhonas da minha mãe que me faziam rir e que tanto irritavam o meu pai.

Sem comentários:

Enviar um comentário