segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Banquinho vermelho


De pé em cima do banquinho vermelho com os braços pousados no parapeito da janela o tempo não existia. As sardaniscas brincavam às escondidas nas lousas negras do telhado dos currais que estavam mornas depois de um dia de calor estival, ao longe ouvia-se o latido dos cães e as vozes de chamamentos irreconhecíveis, o choro contínuo do tanque estava sempre presente ladeado pelo tapete amarelo de malmequeres. Eu ali ficava a contemplar o vale rodeado pelas altas montanhas, atenta às primeiras nuvens de fumo que irrompiam das chaminés imaginando as pinhas e a caruma a crepitarem nas lareiras de pedra. Ficava tanto tempo que só as dores e as marcas nos braços me despertavam daquele devaneio. Era como se estivesse a saciar uma fome que não tinha fim e que ninguém reconhecia.

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