domingo, 22 de novembro de 2009

Num fim de tarde em que a Florinda corria para casa


Esperava ansiosamente a chegada do meu pai com a televisão, que vinha muito bem acondicionada numa grande caixa de cartão grosso de cor bege acastanhada. Em casa já estava tudo preparado para a sua chegada, no quarto do sofá tinha sido colocado o móvel novo onde se colocaria o aparelho, que iria ter um quarto só para si.


Logo que a vi gostei dela, parecia uma janela de madeira envernizada, que tinha no canto inferior esquerdo um conjunto de quatro pequenos cilindros pretos que se pressionavam fazendo com que desaparecesse uma imagem e aparecesse outra, como se fechasse e abrisse a janela muito depressa num fim de tarde em que a Florinda corria para casa a avisar a mãe que o pai vinha bêbado; um pouco mais abaixo encontravam-se mais três pequenos cilindros pretos que se rodavam para um lado e para o outro, e que faziam com que a imagem ficasse toda negra ou toda clara e brilhante, como quando o sol batia no vidro da janela e não me deixava ver se a minha mãe estava a dar a volta do túnel terminando com a minha amedrontada espera.


Descobri que esta janela especial, de que eu tanto gostava, que parecia ter o poder de conseguir diminuir as minhas dores, afinal não passava de um embuste. Respirávamos as suas imagens para não asfixiarmos quando nos olhávamos. A minha mãe e o meu pai passaram a discutir menos e a distanciarem-se cada vez mais.

1 comentário:

  1. Vim só deixar um olázinho e um convite: participe na Blogagem de Dezembro do blogue www.aldeiadaminhavida.blogspot.com
    “O tema é: O Natal na minha Terra”
    Basta enviar um texto máximo 25 linhas e 1 foto para aminhaldeia@sapo.pt até dia 8 de Dezembro. Participe. Haverá boa convivência e solidariedade!

    Jocas gordas
    Lena

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