
O meu padrinho chamava-se Henrique e cantava fado vadio para além de ser marceneiro e ter construído muitos dos eléctricos que ainda andam pela cidade, mas quando eu nasci já ele passava muito tempo em casa doente. Cresci a ver o meu padrinho que eu chamava Quique a passar cada vez mais tempo na cama, dias seguidos sem se levantar, excepto no tempo que se seguia ao tratamento que de tempos a tempos fazia no Hospital de Conde Ferreira. Os dias e semanas que se seguiam ao tratamento eram fantásticos, pelo menos para mim porque para ele creio que nem tanto porque ficava com amnésia e tonturas. Quando os sintomas atenuavam e ele sentia uma falsa cura, levava-me à rotunda da Boavista onde íamos jogar à bola e à carris onde aproveitava para fazer uma visita aos colegas e mostrar-me muitos dos eléctricos que tinha ajudado a construir, íamos até à padaria que ficava em frente a casa onde eu podia ver os padeiros a fazer pão e metê-lo no enorme forno de lenha de onde saia muito calor ou então deixava-me pentear os seus cabelos ondulados abrilhantados infinitamente.
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