quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Frutos


Quase todas as árvores que existiam nos campos do meu avô davam frutos comestíveis. Logo à entrada do primeiro campo havia uma que dava pêssegos e mesmo ao lado estava a dos figos, as das maçãs e das peras ficavam em frente aos currais dos porcos e das vacas, nas traseiras da casa, eram umas árvores muito grandes; ao fundo do segundo campo ficava a das cerejas e ainda havia as árvores das ameixas brancas e ameixas roxas e a das ginjas, mas ficavam longe, na quinta da mata, onde eu não podia ir sozinha. De todos os frutos, os que eu mais gostava era das cerejas, aquelas bolinhas vermelhas emparelhadas que eu resistia em comer para poder enfeitar as minhas orelhas, os meus dedos e tudo aquilo que suportasse os graciosos pares. Na verdade, os figos eram o único fruto que não me interessava, não sei bem porquê, se calhar porque o achava feio, nem me atrevia a prová-lo.
Para mim as árvores tinham que ter sempre frutos, não percebia que só os tivessem numa determinada altura do ano, e tinham que os ter sempre maduros prontos a serem comidos, por isso, não ligava ao que o meu avô me dizia “não apanhes a fruta que ainda está verde”, pois sempre que eu via um fruto por mais pequeno que fosse, estava pronto a ser apanhado e devorado, exceptuando os figos que não gostava e as cerejas que não estivessem vermelhinhas, tudo o resto era para ser colhido e comido, não sendo de espantar, que de madrugada eu devolvesse à natureza a imaturidade que povoava as minhas entranhas. A minha mãe acordava estremunhada com os meus apelos de aflição e no meio de mais uma muda de roupa de cama dizia em voz baixa “eu não te disse para não comeres a fruta verde, faz-te mal à barriga”.

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