sexta-feira, 24 de julho de 2009

Visita ao meu bisavô


Quando ia com o meu pai visitar o meu bisavô, que era o seu avô paterno, levava-lhe sempre uma prenda, uns maços de cigarros da sua marca preferida que o meu pai comprava e me dava, para eu lhe entregar logo que chegássemos a sua casa. Ele fumava uns cigarros pequeninos, que vinham dentro de uma embalagem também pequena feita com um papel branco onde estava escrito o nome da marca em letras vermelhas.


Eu gostava muito de ir visitar o meu bisavô porque a caminho de sua casa passávamos pelas ruas estreitas do centro da vila e pelo calvário, que era um penedo muito grande onde se encontravam três cruzes, um pelourinho e um púlpito, tudo em pedra, e que me deixava sempre curiosa, questionando o meu pai sobre o propósito desse sítio chamado calvário. O meu pai tentava responder à minha curiosidade contando-me histórias de romanos, cristãos, ladrões, perseguidos, que eu adorava ouvir.


O meu bisavô era um homem velhinho e pequenino que vivia numa casa de pedra rodeada por árvores, campos de cultivo e vinha. O seu dia-a-dia era passado nos campos e quase tudo o que comia vinha da sua terra cultivada. Quando a visita ao meu bisavô coincidia com as vindimas, ele levava-nos ao lagar que ficava no piso térreo da casa, para vermos as uvas que ele tinha colhido a fermentarem. Havia um cheiro adocicado no ar e se estivéssemos atentos conseguíamos ouvir um leve murmúrio produzido pela união das suas uvas. Dava-nos sempre a provar o líquido que se produzia na fermentação, era docinho e chamava-se vinho doce e só se podia provar um bocadinho porque fazia dores de barriga.

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