quinta-feira, 23 de julho de 2009

Desilusão


Vendedor de vinho, foi um dos muitos biscates que o meu pai arranjou extra trabalho principal. Da mesma forma que eu acompanhava o meu pai nas imensas actividades que ele desenvolvia, também o acompanhava nesta, tendo um papel muito importante, era a provadora de vinhos e a que seleccionava o vinho que o meu tinha que comprar.


O meu pai comprava o vinho em Arouca, a sua terra natal, e quem provava os vinhos em primeiro lugar era ele, depois passava-me a mim a caneca de bordo largo para que eu também provasse, no final das provas perguntava-me qual o vinho que eu tinha gostado mais, acabando por comprar aquele que eu tinha escolhido. Esta atitude do meu pai deixava-me muito orgulhosa e muito feliz.


Após a selecção do vinho, eu ia à carrinha quatro ele de cor creme buscar os garrafões para serem enchidos e de seguida, já cheios, voltavam novamente para a carrinha, onde eram devidamente acondicionados para não haver qualquer percalço nas curvas apertadas do caminho. Quando chegávamos a casa, eu voltava a retirar os garrafões cheios e pesados da carrinha e transportava-os para casa, onde o meu pai fazia uma lista das entregas que eu tinha que efectuar no dia seguinte pela tarde depois de regressar da escola, dois garrafões para o senhor Manuel, um garrafão para a dona Tininha, quatro garrafões para o senhor Mário, e a lista continuava infinitamente.


No negócio do vinho do meu pai, eu para além de ser provadora também era distribuidora, e se por um lado a satisfação do meu papel importante de provadora no início desta actividade, me dava alento para carregar durante horas os pesados garrafões, com o passar do tempo a tarefa tornou-se difícil e aberrante, mas não estava autorizada a abandoná-la. O negócio durou algum tempo, já não me recordo quanto, mas o suficiente para começar a sentir-me desiludida com o meu pai, afinal não era sempre um homem bom para mim, também era mau.

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