domingo, 26 de julho de 2009

Queria desaparecer


Era habitual os meus pais estarem zangados na época do natal, não sei porque é que isso acontecia, mas era raro ocorrer o contrário. Apesar de não se falarem e dormirem em quartos separados, o que fazia com que eu e a minha irmã fossemos despejadas do nosso espaço para passar a ser ocupado pelo meu pai, os rituais natalícios tinham que ser cumpridos, exceptuando a troca de presentes que o meu pai nunca aprendeu a dar nem a receber, acabando por acontecer só entre mim, a minha irmã e a minha mãe às escondidas do meu pai para não termos que ouvir as suas terríveis críticas.


Na noite da consoada, às oito da noite, era obrigada a estar sentada à mesa da sala de jantar que se utilizava só em eventos especiais, em frente a uma televisão a preto e branco que tinha sido deslocada para aquele local por ser natal. A minha vontade era desaparecer, o silêncio e a agressividade que pairava naquela mesa era absolutamente insuportável, mas nada podia fazer, tinha que comer o bacalhau com batatas e as rabanadas. Na televisão viam-se famílias alegres a cantar canções de natal e lindos presentes a serem desembrulhados, na minha boca o bacalhau dava voltas e mais voltas e não o conseguia engolir, sentia um nó na garganta, fazia um esforço para que não me saltassem as lágrimas, mas tudo tinha de continuar.


Quando o meu pai dava por terminado o jantar, sentia um grande alívio, temporário é certo, mas ainda faltava um ano para que tudo se voltasse a repetir.

5 comentários:

  1. As razões não eram as mesmas, mas estes são os sentimentos que associo à maioria dos Natais da minha infância. A vontade que tudo acabasse depressa, a sensação de estar num dia que era suposto ser diferente, mas que, apesar dos esforços que se faziam, era igual a todos os outros... ou melhor era diferente porque se sentia o ridículo do esforço... E, aqui para nós, continua a ser assim...

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  2. No entiendo porque nos empeñamos en seguir celebrando la navidad, algo que no hemos elegido.
    yo a pesar de mi suerte por no tener que celebrarla en familia y con todos los protocolos, es un momento que no disfruto nada, sobre todo por el ambiente frivolo y superficial que se vive en la calle.
    Lo unico que importa es gastar dinero, ponerse morado a comer, beber.
    Es como si la gente no comiera ni bebiera el resto del año.
    Ademas son fiestas antiesteticas.

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  3. Ana, pelo menos agora já não necessito de fazer esforços, pois há muito tempo que decidi não participar nestas festas familiares. Quanto às festas de rua e histeria colectiva é mais difícil fugir.

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  4. Maria, claro que o natal é muito perturbador para toda a gente, mesmo aqueles que se consideram muito equilibrados vacilam. Por isso gastam, comem e bebem para ver se isto do natal passa depressa.

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  5. Oi Adelaide.. Seu pai era catolico?? Infelizmente as pessoas a muito tempo nao se conscientizam do verdadeiro significado do Natal. Grande maioria ficam preocupados e nervosos com a ceia, roupas e presentes, se individam ate o proximo Natal e ai comeca tudo de novo... Quando eu era crianca soh via minha mae nervosa p/dar conta de tudo, todo mundo tinha que sair de perto... na hora da festa era uma beleza e quando acabava minha exausta maezinha parecia que tinha tirado um peso enorme das costas.. hoje a entendo e a estoria se repete comigo.. bom se tudo fosse simples com uma multidao de Cristaos em oracao pelo aniversario de Jesus Cristo!! O Natal deixou de ser um feriado religioso a muito, muito tempo.

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