quarta-feira, 1 de julho de 2009

O secador de cabelo


Ia todos os anos acompanhada pelos meus pais e irmã à festa de natal que era organizada pela empresa onde trabalhava o meu pai, era um momento que eu esperava com grande ansiedade durante todo o ano porque era tudo muito bonito e alegre. Assim que chegava à festa recebia saquinhos brilhantes com chocolates, bombons e bolachas de todo o tipo, atavam um enorme balão colorido ao meu pulso para que este não fugisse e ficasse colado ao tecto, depois ia ver o espectáculo dos palhaços, mas o momento que eu mais ansiava acontecia mesmo no fim da festa, que era a escolha de um dos muitos brinquedos que existiam para a minha idade.


Este era um momento bom, mas também difícil, porque tinha de escolher só uma coisa entre muitas que gostaria de ter. Assim que me aproximava dos brinquedos, as senhoras que estavam encarregadas de os distribuir perguntavam-me o que queria, eu olhava para tudo e ficava calada, tornava a olhar e mais uma vez me questionavam, eu com alguma indecisão apontava um brinquedo e imediatamente olhava para o meu pai para saber se ele aprovava a minha escolha, o que habitualmente acontecia, mas um ano, estava neste jogo de aponta e olha e o meu pai interrompe o processo e diz-me: - “não achas melhor o secador? pode fazer jeito… é mais útil.”. Escolhi o secador de cabelo, o meu pai acenou com a cabeça em sinal de aprovação e satisfação e eu fiquei a olhar para os brinquedos não escolhidos. Pela primeira vez saí desiludida e triste da festa de natal.


O secador de cabelo durou anos e anos, nunca avariou, foi sempre ele que secou o meu cabelo durante os imensos anos que vivi em casa dos meus pais.

4 comentários:

  1. Na empresa da minha mãe também organizavam essas festas. E tínhamos direito a presentes até aos 12 anos. Conforme os anos iam passando, na perspectiva da empresa (no caso da Comissão de Trabalhadores que era quem organizava a coisa) os presentes iam sendo cada vez mais "úteis" e adultos (adulterados, diria eu). No último ano em que tive direito a presente podia escolher entre um relógio e uma caneta de tinta permanente. A ilusão do "permanente" determinou a minha escolha...

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  2. A caneta de tinta permanente tinha "muita pinta", imagino que a tenhas guardado para usar só em momentos especiais.

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  3. O pior é q ninguém imagina mm os anos q esse secador durou, mas eu ainda lembro do pai fazer os remendos no fio desse terrivel secador...

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  4. Pois é Olga, ninguém conseguia destruir aquele horroroso secador. Será que ainda anda lá por casa escondido à espera de atacar?

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