quinta-feira, 16 de julho de 2009

A contar notas


Como o meu pai sempre gostou muito de dinheiro acho que foi procurando trabalhos que o levassem a estar cada vez mais próximo dele, como o de cobrador do banco para onde foi trabalhar. Ia diariamente na sua vespa azul clara bater de porta em porta para cobrar as letras dos empréstimos aos clientes do banco e todo o dinheiro que recebia era metido numa grande pasta de couro castanho-escuro.


Depois do almoço, o meu pai, tinha por tarefa a contagem do dinheiro recebido durante toda a manhã, eu sentava-me à sua frente e em silêncio observava-o a juntar as notas com o mesmo valor em montinhos, desfeitas de vincos, bem esticadas e todas viradas para o mesmo lado, depois pegava num montinho e contava meticulosamente uma nota a seguir à outra, anotando o valor numa folha branca, de seguida pegava noutro montinho de notas de valor diferente do anterior e repetia a mesma operação, fazia isto até ter contado todos os montinhos anteriormente feitos, no final fazia a soma dos valores que foi anotando na folha branca e se por acaso a soma não desse certa com outra soma que tinha feito, tinha que repetir todo o processo. E fazia isto, uma, duas, três vezes e as vezes que fossem necessárias até não haver diferença. Embora esta tarefa pudesse ser aborrecida, eu acho que o meu pai gostava de a fazer, por vezes naquelas contagens repetitivas apercebia-me da imensa satisfação que sentia ao tocar em todas aquelas notas, talvez imaginando que fossem suas, e da delicadeza que empregava quando as guardava.

2 comentários:

  1. Hummm...era uma delicia, receber a semanada em notas novinhas, esticadinhas e c aquele cheiro caracteristico a dinheiro....era pena ser sempre pouco...mas a forretice continua...eheheh

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