domingo, 17 de maio de 2009

Servente de Trolha


O meu pai foi sempre um homem habilidoso e se não sabia como fazer uma coisa tentava aprender, deste modo fazia de tudo, como por exemplo trabalhos de construção civil.


Certo dia decidiu fazer umas grandes obras em casa, derrubar e construir paredes, meter canalizações novas, colocar um tecto falso numa divisão da casa para criar uma espécie de sotão, enfim, era uma obra enorme e era ele que fazia tudo, tendo-me atribuído a tarefa de servente de trolha. O meu pai vestia a pele de construtor ao fim-de-semana e à tarde quando regressava do trabalho e porque o fazia nos tempos livres a obra demorou imenso tempo.


A minha tarefa na obra era do género instrumentista, era eu que lhe chegava os materiais e quem segurava nas madeiras que ele precisava de serrar pois não existiam máquinas eléctricas, era tudo manual. O meu pai explicava-me o que tinha de fazer, como por exemplo, segurar numa tábua que ele estava a serrar, o problema era que por mais que eu tentasse seguir direitinho todas as suas instruções nem sempre saía bem, isto porque, a aplicação da minha força era diferente da dele. Tal divergência impedia a evolução da obra, o que deixava o meu pai muito irritado, a bufar e a gritar furioso com a minha incompetência para as tarefas que me eram destinadas. Não vales para nada, era a frase mais ouvida no meio dos seus desabafos furibundos.


Quando o meu pai estava no trabalho, as minhas tarefas de servente de trolha não cessavam, mas havia uma espécie de despromoção porque deixava a especialidade de instrumentista para me dedicar a uma tarefa indiferenciada, que consistia na recolha do entulho e levá-lo para o contentor do lixo, e assim se passavam horas e horas com baldes de entulho para cima e para baixo.

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