domingo, 31 de maio de 2009

Padaria Flor do Monte


Gostava de espreitar para dentro daqueles fornos enormes, quando os padeiros retiravam pequenos pães tostados e quentes com as pás de madeira, que eram uma espécie de colher de concha lisa e cabo muito comprido. Aproximava-me da entrada e o calor que de lá saía queimava-me a cara, ao fundo crepitava a madeira em brasa.

O meu padrinho vestia os seus melhores trajes e diariamente dirigia-se à padaria que se situava em frente à sua casa, onde passava longas horas, parecia que queria moldar a massa da vida como os padeiros faziam com a massa do pão, acho que tinha a esperança de poder voltar a dar-lhe uma forma semelhante à dos seus anos de juventude onde tudo era grandioso e magnífico.

Eu misturava-me com os padeiros e observava atentamente a perícia com que faziam as roscas, as carcaças, as regueifas e acabava por também fazer os meus pãezinhos que colocava delicadamente na pá de madeira, que os introduziria no forno gigante, esse objecto poderoso que iria transformar as minhas delicadas criações em pedaços de massa disforme crescida e corada. Deveria ser uma transformação deste tipo que o meu padrinho procurava, já não aguentando mais aquela sobrevivência arrastada.

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