domingo, 3 de maio de 2009

Arouca # 4


Eu gostava de dar sempre um passeio pelos campos, seguia pelo caminho de terra para ver o que se passava, umas vezes tinha uma visão geral dos campos, outras nem por isso. No verão, quando o milho já estava alto eu não conseguia ver nada, a não ser milho, habitualmente corria pelo caminho, este caminho era como um túnel que me deixava inquieta, corria com as folhas do milho a tocarem-me aquando da minha passagem. Quando chegava ao segundo campo, era imprescindível ir ver como estava a cerejeira que ficava ao fundo do lado direito. Claro que antes dava uma vista de olhos noutra ramada com uvas americanas. A cerejeira não dava cerejas todos os anos e às vezes nem dava cerejas, mas eu estava sempre à espreita dos seus frutos e ficava tão contente quando via pequenas bolinhas a avermelharem, para além de as comer brincava com elas, pendurava-as nas orelhas a fazer de brincos e improvisava anéis que embelezavam as minhas pequenas mãos.

Nos três campos do meu avô, digo três porque havia como que uma espécie de separação feita pelas ramadas, embora fosse uma área de terreno seguida, aquele a que eu dedicava mais atenção era ao segundo, porque tinha a cerejeira e as uvas americanas, os outros era somente uma passagem. Na primavera eu dedicava alguma atenção a certos locais à procura de morangos que por vezes apareciam, eram escassos, mas de vez em quando lá iam aparecendo.

Uma outra paragem obrigatória era o pessegueiro, era sempre observado atentamente, ficava do lado direito, logo a seguir ao palheiro e antes da entrada nos campos. Dava pêssegos todos os anos, mas demorava imenso tempo a ficarem maduros e eu acabava por os comer ainda verdes o que me deixava a boca muito amarga e cheia de pêlos que custava a sair.

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