quinta-feira, 28 de maio de 2009

Alfaiate


O meu pai é filho e neto de lavradores, mas nunca sentiu o chamamento da terra, e como as minas de volfrâmio onde o meu avô tinha trabalhado por altura da guerra também não lhe interessavam, decidiu ainda antes de sair da escola primária pedir ao alfaiate da aldeia que o ensinasse naquela arte e assim deu início a um ofício que o ocupou durante muitos anos mas que acabou por descobrir que também não o satisfazia. Esta insatisfação se calhar devia-se ao facto da execução de uma peça ser lenta, passar por várias etapas até estar concluída e os ganhos não serem tão elevados como o meu pai desejava. Por isso, decidiu arranjar outra profissão, mas não deixou a arte de alfaiate que manteve ainda por muito tempo nas horas livres, que eram todas as horas em que não estava no outro trabalho. E assim passava longas horas na máquina de costura singer que tinha um pedal onde eu adorava sentar-me e balançar-me e fazia os moldes e decalques com giz sobre as fazendas que depois eram cortadas com a tesoura que eu não conseguia manobrar de tão grande que era.

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