terça-feira, 13 de outubro de 2009

Recados


Quando a minha mãe me mandava ir à loja do senhor Manuel comprar três ovos ou meio quilo de cebolas ou dois limões ou qualquer outra coisa que lhe fazia falta era uma alegria. Saía disparada de casa aos saltinhos a repetir baixinho o que ela me tinha pedido e com o dinheiro bem apertadinho numa das mãos para não o perder. A loja do senhor Manuel tinha duas portas e eu gostava mais de entrar pela porta que me levava até aos caixotes das frutas e dos legumes do que pela outra que dava para um balcão onde se viam os bacalhaus, chouriços e toucinho em salmoura, porque de frutas e legumes eu era uma entendida, tinha aprendido com o meu avô na aldeia como se plantavam e colhiam, enquanto que de bacalhaus e toucinho nada sabia e também não gostava do odor desagradável que emanavam. Na loja do senhor Manuel esperava pela minha vez para ser atendida, muito caladinha observava tudo o que se passava ao meu redor não me atrevendo a reivindicar a minha posição quando as senhoras astutas faziam de conta que eu era invisível e passavam à minha frente. Esperava pacientemente que o senhor Manuel me perguntasse o que queria, recitando com exactidão o pedido da minha mãe. Regressava a casa pelo caminho do túnel porque tinha ido pelo caminho da esquina, aos saltinhos, levando numa mão o recado e na outra o troco bem apertadinho.

2 comentários:

  1. Eu também ia aos recados... a saltitar e com o dinheiro bem apertadinho na mão, mas não ficava à espera da minha vez...metia-me à frente de toda a gente ( e o meu irmão morria de vergonha!!!)

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  2. Olá K!
    E todos caladinhos a aguentar a rebeldia da menina. Parece-me bem melhor do que a minha timidez que me deixava zangada e triste.

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