domingo, 5 de julho de 2009

Pimenta na boca


Pronunciei as minhas primeiras palavras antes de ter um ano de idade, toda a família ficou contentíssima, e com o objectivo de aumentarem rapidamente o meu vocabulário diziam-me palavras para que eu as reproduzisse, o que fazia com facilidade, deixando todos muito alegres. Os meus padrinhos eram os que mais investiam nesta aprendizagem, e para além de me ensinarem as palavras comuns e correntes também me ensinavam as palavras proibidas, o que deixava o meu pai muito irritado, tendo mesmo ameaçado de que não voltariam a estar comigo se tal comportamento se mantivesse, mas eu já as tinha aprendido e conseguirem que não as dissesse nas alturas menos próprias nem sempre era fácil.


Certo dia vou ao colo da minha mãe no eléctrico que ia apinhado de gente e muito sensatamente digo à minha mãe para se sentar ao que ela responde que não pode porque os lugares estavam todos ocupados, mas eu insistia e repetia infinitamente: - oh mãe senta-te… oh mãe senta-te… Como a minha mãe não se sentava e passou a não dar resposta às minhas ordens, gritei no meio de toda aquela gente que enchia o eléctrico: - oh puta senta-te. Olharam todos para nós muito espantados, a minha mãe ficou muito envergonhada e tentou acalmar-me, dizendo-me que saímos na paragem seguinte.


Já em casa no meio das minhas brincadeiras e sentindo-me contrariada na minha vontade de mexer na cristaleira saiu mais uma palavra proibida. A minha mãe furiosa descarregou finalmente a sua raiva, disse-me que não podia dizer aquelas palavras, pegou em mim, colocou-me no berço e encheu a minha boca com pimenta como castigo. A minha boca ardia muito, eu chorava copiosamente mas a minha mãe não me socorreu.

3 comentários:

  1. Pois, a minha avó usava exactamente o mesmo sistema (e gastou fortunas em pimenta!). E o que tem graça é que hoje quando algum alimento tem demasiada pimenta a primeira coisa que digo é "p*** que pariu"... :-)

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