terça-feira, 21 de julho de 2009

Operação à garganta


Não havia mais nada a fazer, tinha que ser operada à garganta porque não podia continuar a fazer infecções e a tomar antibióticos quase todos os meses. A sentença estava dada. Os meus pais amedrontados, foram comentando com a família e amigos que a menina deles tinha que ser operada, e sempre que tocavam no assunto ao meu pai franzia-se a testa e à minha mãe saltavam-lhe lágrimas de aflição. Assustava-os que algo pudesse correr menos bem, mas no fundo eu acho que o que os assustava verdadeiramente era que pudessem perder-me, e não podiam fazer absolutamente nada, nem mesmo ficar comigo no hospital, pois a única coisa que lhes era permitido era uma visita diária de uma hora.


Os meus pais explicaram-me que tinha de ir tratar o dói-dói à garganta no hospital e que tinha de lá ficar uns dias com uma senhora amiga da minha mãe. Concordei, e diariamente perguntava aos meus pais se era naquele dia que ia para o hospital, estava curiosa, e queria saber o que era isso de ir para o hospital. No dia marcado para o internamento no hospital de santo António, o meu pai e a minha mãe foram-me levar, mas decidiram sair de casa com bastante tempo de antecedência em relação à hora marcada no hospital porque tinham-me prometido levar a ver as montras na rua de Cedofeita. Os meus pais arrastavam-se e eu desinteressada das montras, saltitava a perguntar quando chegávamos, pois a única coisa que naquele momento me interessava era o hospital. Chegámos finalmente, a uma casa muito grande com muitas pessoas nas escadas de três grandes portas, eu ia de mão dada à minha mãe e ao meu pai, olhava atentamente para tudo, queria ver bem o hospital, até que uma senhora pegou na minha mão e simpaticamente perguntou-me o meu nome e devagarinho levou-me para a entrada de um corredor, parei e rapidamente procurei os meus pais, estavam atrás de mim, chorosos, percebi naquele momento que não iam comigo, comecei a chorar e a chamá-los, já tinha visto o hospital e não gostava, queria voltar com eles.

4 comentários:

  1. É esta capacidade de recordar todos os pormenores que chego mesmo a invejar! As minhas memórias da infância são mais feitas de sensações, do que de imagens de situações concretas. A partir de certa altura são os diários que me ajudam a lembrar. Mais tarde deixei de os escrever...

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  2. tudo muito vívido, talvez porque muito vivido. gosto. :)

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  3. Olá Ana!
    Tentei várias vezes começar um diário, o que efectivamente fiz, mas não conseguia dar-lhes continuidade, acho que o que sentia era muito difícil transmitir por palavras e o que acontecia era banal e não merecia esse esforço.
    Descobri há pouco tempo o quanto é fantástico reviver estes instantes da vida.

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  4. Filipa, é verdade, algumas coisas foram muito vividas.
    bjs

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