domingo, 12 de julho de 2009

O guarda-vestidos


A casa da Bibi era o mundo de todos os prazeres. Tudo o que em casa dos meus pais não podia fazer ali tornava-se possível, só necessitava de um pouco de imaginação. Podia abrir as portas da cristaleira, as gavetas da cómoda, a porta do guarda-vestidos e espreitar para dentro de todos estes compartimentos para ver o que continham. De todos os móveis, o guarda-vestidos era aquele que eu preferia, porque era muito grande e enigmático, sempre que eu abria a sua pesada porta e via os vestidos e fatos pendurados encostados uns aos outros ficava com a sensação que tinha acabado de interromper as suas conversas, achando que mal a voltasse a fechar retomariam as suas cumplicidades. Nunca movia as roupas dos seus sítios porque a rigidez que apresentavam fazia-me parecer que ocultavam segredos, tinha medo de as perturbar pois não sabia o que me poderiam fazer, contemplava-as e tocava-as com as minhas mãos ao de leve como que a querer transmitir-lhes que só estava ali para as admirar. Lentamente cerrava a porta do guarda-vestidos e encostava a cabeça à porta já cerrada à escuta dos seus sussurros.

2 comentários:

  1. qué buena ha sido para ti la existencia de Bibi, te salvó.
    VIVA BIBI!!

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  2. Concerteza a Bibi também tinha os seus defeitos, mas eu não os conheci, para mim era realmente uma mulher maravilhosa.

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