quinta-feira, 30 de julho de 2009

A hora do chocolate


Todos os meses ia com o meu pai comprar a comida para casa, aquela que se podia guardar, como o arroz, o azeite, a massa e muito mais. Íamos só uma vez por mês, por isso o que se comprava tinha que dar para esse período de tempo, o que nem sempre acontecia porque a minha mãe fazia desvios.


O meu pai antes de sair de casa fazia uma lista do que era necessário comprar e fazia-a todos os meses, o que era desnecessário porque todos os meses comprava as mesmas coisas. Eu gostava de o acompanhar, era eu que ia buscar às prateleiras o que ele ia lendo da lista e colocava no carrinho de compras. Geralmente íamos ao supermercado Invictos que ficava no Carvalhido, era um supermercado grande onde se podia comprar de tudo, mas o meu pai só comprava o que era necessário, a única excepção era a compra de um chocolate pequeno de marca Regina que comíamos em casa no fim da arrumação das compras que tinha o seu ritual.


Quando chegávamos a casa, a primeira coisa que eu fazia era retirar todas as compras dos sacos de plástico e colocá-las juntinhas no chão da sala de jantar, o meu pai sentado numa cadeira ao lado da mesa de jantar pegava na lista de compras escrita por ele e no talão do supermercado e recitava: “cinco quilos de arroz e o quilo é a dez escudos”, eu verificava o preço do arroz e dizia-lhe se coincidia com o valor que me tinha dito e depois separava os cinco pacotes de quilo do arroz do conjunto total das compras, iniciando assim um outro grupo de compras; entretanto o meu pai assinalava com uma lapiseira a parcela do talão de compras com um vê de visto que correspondia a correcto, passando para a parcela seguinte “quatro garrafas de óleo fula e cada garrafa custa quinze escudos” e eu repetia a mesma operação de verificação de preço, comunicação e separação, e assim continuávamos até à verificação final do talão de compras, seguindo-se a arrumação das compras numa espécie de sótão que o meu pai construiu na casa de banho, rebaixando o tecto. Para lá chegar o meu pai necessitava de abrir a escada que estava encostada à parede do lado direito quem entrava na casa de banho, mesmo ao lado do bidé. Já subido na escada, o meu pai ia pedindo as compras “…agora os seis pacotes de massa… agora as garrafas de azeite…” que ia colocando muito ordenadamente na espécie de sótão. Eu ia-lhe chegando as compras pela ordem que ele me ia pedindo até ao último pacote.


Terminada a tarefa, era chegada a hora do chocolate, o meu pai pegava no pequeno chocolate de marca Regina e dividia-o meticulosamente em quatro partes iguais, uma para ele, outra para mim, outra para a minha mãe e outra para a minha irmã. Eu comia o meu pequeno pedaço em dentadinhas e lambidelas pequeninas para que durasse muito, às vezes ainda comia mais um bocadinho porque a minha mãe prescindia da sua parte dividindo-a em dois pedacinhos que distribuía por mim e pela minha irmã.

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