quarta-feira, 6 de maio de 2009

Senhora Aninhas


Em frente morava a senhora Aninhas que era hortaliçeira e vendia a couve cegada, os nabos, as pencas, as cenouras e restantes legumes no túnel ao lado da padaria. Diariamente saía de casa às 5 horas da manhã com o seu cesto de vime equilibrado no cimo da sua cabeça para ir ao mercado comprar a mercadoria e deixava a dormir o marido, o senhor Casimiro e o neto, o Tone, que vivia com ela desde pequeno, assim como a cadela já muito velha que se arrastava pelos cantos para além dos inúmeros gatos que povoavam a sua casa e que infestavam a casa com um odor que eu não gostava nada.


A senhora Aninhas era assim como uma avó, mais velha que a minha mãe sempre a dar-lhe conselhos sobre os mais diversos assuntos e a mim tratava-me como se fosse mais uma neta, era cuidadosa e carinhosa e tentava explicar-me as exuberâncias da minha mãe, como que a desculpá-la tentando sempre que ela alterasse comportamentos.


A porta da casa da senhora Aninhas que ficava mesmo em frente à porta da minha casa estava sempre aberta, ainda não sei porque é que a tinha aberta, se era para que as pessoas entendessem que a sua casa seria uma extensão do seu local de venda no túnel onde permanecia das 7 às 12 horas, ou se era um hábito que trazia da sua infância na aldeia de onde era oriunda onde não existiam portas fechadas, mas onde não se entrava sem chamar pelo da casa e sem tirar os sapatos que aguardavam na soleira da porta. Dentro de casa da senhora Aninhas existia a maior das confusões, havia hortaliça por todos os lados, não só no cesto como em cima dos móveis, numa mesa estava acoplada uma máquina de cegar couves que só funcionava se fizéssemos girar uma manivela pondo a rodar a lâmina que cortava as couves que eram introduzidas num cone, os gatos andavam livremente por toda a casa, em qualquer local, mesmo em cima da hortaliça.

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