terça-feira, 28 de abril de 2009

Três Janelas


Tinha feito seis anos há três meses quando entrei para a escola, era um sítio onde ia aprender muitas coisas, tinham-me dito os meus pais que me acompanharam à sala de aula no primeiro dia, mas só foram comigo naquele dia porque eu morava perto e a minha vizinha Zeza que era da minha idade e andava na mesma classe que eu me acompanhava. A minha sala de aula era ampla e tinha três janelas grandes que me deixavam ver as copas das árvores do jardim e o céu, estava ocupada com três filas de carteiras duplas de madeira de cor castanho escuro enceradas e que tinham um buraco ao centro onde se colocava o tinteiro com tinta azul escuro para se molhar o bico das canetas naqueles dias em que a senhora professora nos mandava fazer cópias com tinta permanente. Na parede em frente às carteiras estava colocado um grande quadro de lousa negro e pequenos pedaços de giz branco no rebordo inferior do quadro e por cima do quadro estava pendurado um crucifixo de tamanho médio e por baixo deste existia uma moldura com a fotografia de Marcelo Caetano. Próximo do quadro de lousa, estava a mesa da senhora professora, a Dona Gonçalina, que mesmo ao seu lado tinha uns mapas que mostravam o corpo humano e os seus órgãos e o planisfério. Na minha carteira da minha sala de aula da minha escola primária passei muitas horas a aprender a desenhar as letras, a fazer as contas de somar, dividir com e sem casas decimais, de multiplicar, a escrever os ditados e redacções, a desenhar castelos e príncipes e a pensar e observar. Quando chegava a primavera ouvia os passarinhos a chilrear e com vontade de os ver a saltitar olhava através das janelas da minha sala de aula para fora e assim me quedava a observar as folhas das árvores que cresciam devagarinho num verde clarinho e o céu azul celeste por vezes com nuvens de algodão.

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