tag:blogger.com,1999:blog-67826503135992911482024-03-14T07:54:27.477+00:00InstantesAdelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.comBlogger118125tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-18384950811627910832010-04-04T23:20:00.003+01:002010-04-04T23:27:09.639+01:00Os filmes da sua vida<div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Via com a minha mãe os filmes da sua vida, a televisão passava-os em épocas festivas e tardes aborrecidas, ela emocionada antecipava as falas e os cantares. Riamos que nos fartávamos. Os penteados da minha mãe tinham parecenças com os das actrizes dos filmes. Quando o filme terminava, a minha mãe suspirava e cantarolava baixinho as cantigas.</span></div><div align="justify"><span lang=""></span> </div><div align="left"><span lang=""><object width="480" height="385"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/BZnp8ucu4_o&hl=pt_PT&fs=1&"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/BZnp8ucu4_o&hl=pt_PT&fs=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="480" height="385"></embed></object></span></div><div align="left"><span lang=""><span style="font-size:78%;">Herminia Silva canta o "Fado da Sina" extraído do filme de Henrique Campos "Um Homem do Ribatejo"</span></div></span>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-865267894060893672010-03-09T17:24:00.002+00:002010-03-09T17:27:46.136+00:00Rir ou não rir<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAbNAqqxSIEUZuKzCWot2jL_oMEvDWM0eF6VViBreqQCi0w_-Pe3B-V2YT4ormf6ZTgHJM7MVpDHt_10JthYwB24yaLbvJICACv-WCrNeEBwgMZUK31-pk9zIydGEL-Fb4WRwVveDJlkI/s1600-h/foto-b.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5446687087068203922" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 331px; CURSOR: hand; HEIGHT: 280px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAbNAqqxSIEUZuKzCWot2jL_oMEvDWM0eF6VViBreqQCi0w_-Pe3B-V2YT4ormf6ZTgHJM7MVpDHt_10JthYwB24yaLbvJICACv-WCrNeEBwgMZUK31-pk9zIydGEL-Fb4WRwVveDJlkI/s400/foto-b.gif" border="0" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Nunca o via rir muito, ao meu pai, mesmo quando aconteciam coisas que faziam rir ele esforçava-se para não o fazer, e quando tinha dificuldades em manter a seriedade da cara só lhe saía um arredondamento dos cantos da boca e um olhar mais rasgado. Sem perceber muito bem se rir era bom ou mau, porque o meu pai não ria e a minha mãe fartava-se de rir, comecei a estar atenta ao riso para saber quando podia rir. Descobri que o meu pai ria na aldeia, em casa do meu avô, quando se juntava com os irmãos e restante família, também ria bastante com os colegas do trabalho e ainda ria mais com os chefes; enquanto a minha mãe ria em quase todas as circunstâncias, com as vizinhas, na padaria e até mesmo sózinha em frente ao espelho quando se maquilhava. E assim, aprendi a rir de acordo com a proximidade, quando estava com o meu pai ria quando reparava que ele começava a esboçar um sorriso ou quando se ria abertamente e quando estava com a minha mãe ria quando tinha vontade e sempre que me apetecia mesmo que não houvesse motivo, quando estava com ambos a seriedade impunha-se, era salva pelas gargalhadas trapalhonas da minha mãe que me faziam rir e que tanto irritavam o meu pai.</span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-495253398752418732010-02-11T18:11:00.001+00:002010-02-11T18:25:29.188+00:00Frutos<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyiNwaBsCXeNKgF1GhjFKogll7Pv_IoMZUK9tGKgk9bNebqB4PlU82oex6vsPhd4rhKGUSfpK5tkHI7ab8iGm5FrnFjhcmLSG4ss-N3rT8eFSbAQZ3va3_N8L1DTuBQFvNqznYBMbu7fM/s1600-h/222s.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 245px; DISPLAY: block; HEIGHT: 400px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5437053735684605874" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyiNwaBsCXeNKgF1GhjFKogll7Pv_IoMZUK9tGKgk9bNebqB4PlU82oex6vsPhd4rhKGUSfpK5tkHI7ab8iGm5FrnFjhcmLSG4ss-N3rT8eFSbAQZ3va3_N8L1DTuBQFvNqznYBMbu7fM/s400/222s.jpg" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Quase todas as árvores que existiam nos campos do meu avô davam frutos comestíveis. Logo à entrada do primeiro campo havia uma que dava pêssegos e mesmo ao lado estava a dos figos, as das maçãs e das peras ficavam em frente aos currais dos porcos e das vacas, nas traseiras da casa, eram umas árvores muito grandes; ao fundo do segundo campo ficava a das cerejas e ainda havia as árvores das ameixas brancas e ameixas roxas e a das ginjas, mas ficavam longe, na quinta da mata, onde eu não podia ir sozinha. De todos os frutos, os que eu mais gostava era das cerejas, aquelas bolinhas vermelhas emparelhadas que eu resistia em comer para poder enfeitar as minhas orelhas, os meus dedos e tudo aquilo que suportasse os graciosos pares. Na verdade, os figos eram o único fruto que não me interessava, não sei bem porquê, se calhar porque o achava feio, nem me atrevia a prová-lo.<br />Para mim as árvores tinham que ter sempre frutos, não percebia que só os tivessem numa determinada altura do ano, e tinham que os ter sempre maduros prontos a serem comidos, por isso, não ligava ao que o meu avô me dizia “não apanhes a fruta que ainda está verde”, pois sempre que eu via um fruto por mais pequeno que fosse, estava pronto a ser apanhado e devorado, exceptuando os figos que não gostava e as cerejas que não estivessem vermelhinhas, tudo o resto era para ser colhido e comido, não sendo de espantar, que de madrugada eu devolvesse à natureza a imaturidade que povoava as minhas entranhas. A minha mãe acordava estremunhada com os meus apelos de aflição e no meio de mais uma muda de roupa de cama dizia em voz baixa “eu não te disse para não comeres a fruta verde, faz-te mal à barriga”.</span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-33613728685889968102010-02-07T17:24:00.002+00:002010-02-07T17:32:03.080+00:00Nandita<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8g6-6CqSqd7a-LIjp3FVK3p2nSoQ7PUyF06xgEzOzqasTYWQxCvZdaQT4DIpQqpD4liY-EdBCwEPTMseNsFoq6-gbRJ50F_K2AmRkCKeR3qWXzdMdvFB-rC3y9BvFDdkp6WfhNGVUTAg/s1600-h/216s.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 396px; DISPLAY: block; HEIGHT: 400px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5435555582385436530" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8g6-6CqSqd7a-LIjp3FVK3p2nSoQ7PUyF06xgEzOzqasTYWQxCvZdaQT4DIpQqpD4liY-EdBCwEPTMseNsFoq6-gbRJ50F_K2AmRkCKeR3qWXzdMdvFB-rC3y9BvFDdkp6WfhNGVUTAg/s400/216s.jpg" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Tinha sido padeira, a Fininha, agora era epiléptica, davam-lhe ataques, sobretudo quando se enervava, caía para o chão, esticava muito o corpo e torcia as mãos num sentido que não dava jeito, revirava os olhos para dentro de si e cerrava a boca com tamanha força que parecia que receava que a fala lhe fugisse, mas a boca tinha que ser aberta para não comer a língua, por isso era-lhe posto sempre qualquer coisa entre os dentes para evitar a fechadura da boca. O marido da Finhinha era o senhor Luís, um homem pacato e sorridente que saía todos os dias de madrugada com a marmita na mão a caminho da fábrica de metalurgia lá para os lados da Circunvalação.</span></div><span style="font-family:verdana;"><br /><div align="justify"><br />A Fininha e o senhor Luís tinham dois filhos, um casal, a Nanda e o Luís. O rapaz era uma cópia perfeita do pai, sempre de dentes arreganhados, levava a vida o melhor que podia, depois de uns anos de estudo esforçado foi trabalhar para ganhar algum dinheiro, que entregava todo em casa. A Nanda, era a grande aposta da família, tinha uns longos cabelos loiros, olhos muito azuis, pele clarinha e corpo proporcionado, não era gorda nem era magra, era aquilo que se esperava de uma rapariga que era considerada a mais bonita do prédio e que a mãe, a Fininha, trazia sempre muito arranjadinha, a sua Nandita, como ela a tratava, era para aí uns seis anos mais velha que eu e era a grande mandona das brincadeiras da miudagem. A Nandita era um misto de menina bem comportada, sempre com um sorriso na boca, muito amável e prestável e de menina malvada que mantinha o seu adorável sorriso quando os miúdos eram derrotados nas brincadeiras em que apostavam ganhar. </div><br /><div align="justify"><br />A minha mãe sentia-se mais segura em deixar-me ir brincar para a rua quando lá estava a Nandita, mas eu sentia-me intimidada, aquela vontade incontrolável de partilhar das brincadeiras de rua esmorecia, a minha mãe insistia para eu ir, eu encolhia-me, até que a minha mãe tomava a pior das decisões, chamava a Nandita e perguntava-lhe se me deixava ir brincar com ela, e eu lá acabava por me juntar ao grupo, muito envergonhada, esperando as ordens da Nandita.</span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-80418586950052874652010-01-28T19:42:00.001+00:002010-01-28T19:45:04.537+00:00Depósito ambulante<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRn2iR4ApI3nbtxDFiLlu9uPPBy0hL6h5Na81C24IBrVth2Pt3UC9tGZKOXQUrbbP5aoXqIlxBD6Wcb3MOteovn_xsUQhurt-m7W8QjfyYNsfKrpb4zq4ydaFVcyu90lxxI3u9czyRwDg/s1600-h/215s.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 282px; DISPLAY: block; HEIGHT: 400px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5431879020116677650" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRn2iR4ApI3nbtxDFiLlu9uPPBy0hL6h5Na81C24IBrVth2Pt3UC9tGZKOXQUrbbP5aoXqIlxBD6Wcb3MOteovn_xsUQhurt-m7W8QjfyYNsfKrpb4zq4ydaFVcyu90lxxI3u9czyRwDg/s400/215s.jpg" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">O meu pai não suportava incertezas. Uma das que mais o irritavam era os gastos de gasolina do carro, não aguentava que o carro tivesse vontades, e gastasse uns dias cinco litros e outros seis a fazer o mesmo percurso, e por mais que perguntasse aos mecânicos, o valor que lhe davam era aproximado, e isso para o meu pai não servia, ele precisava de valores exactos, para ele não existiam aproximações, só exactidão.</span></div><span style="font-family:verdana;"><br /><div align="justify"><br />Para tirar as teimas, decidiu fazer umas medições à sua maneira. Comprou um bidão de plástico branco de dez litros e com uma caneta de feltro preta de ponta fina fez as marcações de meio litro, um litro, um litro e meio, dois litros, e assim por diante até aos dez litros. Para isto usou uma garrafa de vidro de meio litro, que enchia com água e vertia para o bidão que estava apoiado numa superfície plana sem qualquer declive, depois da água deixar de fazer ondinhas dentro do bidão, apontava o bico da caneta de feltro preta à linha feita pela água e fazia um traço muito direitinho seguindo-se a inscrição – 0,5 – voltava a encher a garrafa com água e vertia-a novamente para dentro do bidão, depois da água se acalmar fazia mais um traço recto, um pouco maior que o anterior e à sua frente escreveu – 1,0 – e assim continuou meticulosamente até à última inscrição no bidão – 10,0.</div><br /><div align="justify"><br />A rolha do bidão que era de plástico não servia para o propósito da média dos gastos, teria que ser de um material que desse para furar e não deixasse passar ar, nada melhor que a cortiça, tendo substituído a rolha de plástico por outra de cortiça do mesmo tamanho e furou-a com todo o cuidado de forma a permitir que um tubo de plástico passasse à justinha. Também era preciso que o tubo chegasse quase ao fundo do bidão e que não enrolasse, sendo necessário um tubo que fosse de um material rígido o suficiente para permanecer hirto, mas ao mesmo tempo maleável para passar pelo buraco que o meu pai fez por baixo do porta-luvas que dava acesso à área do motor e que ia encaixar numa peça de metal donde o meu pai já tinha retirado o tubo que ligava o depósito da gasolina ao motor do carro, e que tinha tapado com uma espécie de tampinha feita com um pedaço de madeira.</div><br /><div align="justify"><br />O carro do meu pai passava assim a ter dois depósitos de gasolina, um que lhe pertencia de origem e outro que lhe foi imposto, que era ambulante e que ia entre as pernas da minha mãe. </span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-68100687096942658092010-01-26T12:02:00.002+00:002010-01-26T12:05:53.119+00:00A casa da Florinda<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpMXwjz4jDTiLxCwELwMs7Ydx7CuoqOvFcSqAlCfkq1s1AT2MxX0K83ZHBaGTRXMJq0aRvTDeMJoopdrbbZlJzVJ1Y3XfPFT0dp3eC2vcexMo7dJzve59gDpbgNF6OcIIWw8Mu2ja0wos/s1600-h/fotos-videos+019.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5431018550796325090" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 260px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpMXwjz4jDTiLxCwELwMs7Ydx7CuoqOvFcSqAlCfkq1s1AT2MxX0K83ZHBaGTRXMJq0aRvTDeMJoopdrbbZlJzVJ1Y3XfPFT0dp3eC2vcexMo7dJzve59gDpbgNF6OcIIWw8Mu2ja0wos/s400/fotos-videos+019.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">A casa da Florinda era muito diferente da minha casa, por ter quatro quartos era diferente, por ficar num rés-do-chão era diferente, por lá viverem seis irmãos era diferente, por tratarem o pai e a mãe por você era diferente.</span></div><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">A mãe da Florinda era padeira, transportava uma canastra na cabeça repleta de pão que era distribuído por todas as casas que o compravam, pela manhã saía para trabalhar tão cedo que eu nunca a via, ainda estava a dormir, mas via-a muitas vezes regressar com a canastra vazia à espera do amanhecer seguinte. O pai da Florinda trabalhava em alguma coisa que eu nunca descobri, nunca o via sair para ir trabalhar, ainda estava a dormir, mas via-o muitas vezes regressar com passos incertos como se o estivessem a enganar. </span></div><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Em casa da Florinda as vozes eram sussurros e os olhares fugiam para a frincha do quarto onde o pai tentava acertar os passos. Não se falava do pai nem se falava para o pai, era como se aquele pai não existisse, era como se tivessem nascido sem pai. Eu tinha pena da Florinda, sempre achei que ela gostava de ter um pai diferente, mas nunca me atrevi a perguntar-lhe. Também não conseguia imaginar o que é que podia brotar da boca daquele pai alto, feio e vermelhusco, que muitas vezes fazia chorar a Florinda e os irmãos de dor e vergonha.</span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-32720752245707308462010-01-13T22:21:00.005+00:002010-01-13T22:30:23.432+00:00Colete de varas de ferro<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2iORkozk9Jm6B0dhTnGuyuSw6gIsi6JiThAf4uEb-U6FYeaj0wyfvhdf4wt4Y_hH2pXCeeSHiVP3vZd7vruPChSyfcyD2IRzujwbZeEaM04h3V8MpebKd1GteZr8XNYyDAtaRghCNBVU/s1600-h/212s.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 253px; DISPLAY: block; HEIGHT: 400px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5426353497720022434" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2iORkozk9Jm6B0dhTnGuyuSw6gIsi6JiThAf4uEb-U6FYeaj0wyfvhdf4wt4Y_hH2pXCeeSHiVP3vZd7vruPChSyfcyD2IRzujwbZeEaM04h3V8MpebKd1GteZr8XNYyDAtaRghCNBVU/s400/212s.jpg" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Mal sabia a minha mãe que aquele movimento corriqueiro iria marcar o resto da sua vida, ao baixar-se para pegar em mim ao colo, os seus ossos estalaram e não voltou a poder erguer-se, quedando-se prostrada a meus pés. Eu não voltaria ao seu colo sem que ela fizesse uma delicada operação à coluna, nada mais havia a fazer. Procurou o melhor especialista e avançou para a aventura. Mas correu mal a operação, a culpa foi das radiografias, que enganaram o doutor, que era um verdadeiro especialista, mas foi enganado, deveria ter feito uma coisa e fez outra, mas nada que não se pudesse compor na segunda operação, dizia o doutor, que a minha mãe não quis mais ouvir porque outro grande especialista lhe tinha dito que se operação voltasse a correr mal ficaria entrevada, por isso, depois de quase um ano acamada e ter reaprendido a andar decidiu continuar a viver com a coluna desarranjada.</span></div><div align="justify"><span style="font-family:Verdana;"></span> </div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Fartou-se do colete de varas de ferro que lhe punham a coluna direita, mas que achatavam os peitos e tiravam as curvas e arremessou-o para um canto do guarda-vestidos, mas quando as dores apertavam, voltava a espartilhar-se com promessas de não mais o abandonar. </span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-18118688707322779532010-01-10T18:25:00.002+00:002010-01-10T18:29:30.898+00:00Prendas de Natal<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3NN_2Zo7wBdVcST0X9jps_s0ckNgdY7xqDXdDKuz2OErJ9J_pWniy2Nx8AMs8DFUNYzwyTNSTiMMDb509jat5rZoP7MtEZAx_5LLaQz5Cm2vKBclqQXtT0umfTWCQH6-nnaF4uNzSi7o/s1600-h/102.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 250px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5425180033934279698" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3NN_2Zo7wBdVcST0X9jps_s0ckNgdY7xqDXdDKuz2OErJ9J_pWniy2Nx8AMs8DFUNYzwyTNSTiMMDb509jat5rZoP7MtEZAx_5LLaQz5Cm2vKBclqQXtT0umfTWCQH6-nnaF4uNzSi7o/s400/102.jpg" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Voltar à escola depois das férias de natal não era nada fácil, porque a Maria, a Luísa e a Teresa exibiam orgulhosamente as suas roupas novas e descreviam ao pormenor a enorme quantidade de prendas que tinham recebido, assim como quem as tinha dado e ainda as prendas que tinham oferecido à mãe, ao pai, aos irmãos, à madrinha, ao padrinho, àquela amiga de infância, ao avô, à avó, aos primos da aldeia e restante família. </span></div><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"></span></div><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Na primeira semana de aulas depois do natal, não se falava de outra coisa que não fosse as prendas recebidas e oferecidas. Eu mostrava-me sempre muito interessada na descrição dos pormenores, chegando mesmo a explorar os pormenores dos pormenores, porque enquanto elas gastavam um tempo infinito a explicar e a mostrar as suas prendas eu ia adiando os pormenores das minhas falsas prendas, mas acabava sempre por chegar a minha vez, e claro, não podia ficar para trás, por isso, usava toda a minha imaginação, afinal de contas não tinha oferecido nenhuma prenda e só tinha recebido duas prendas da minha madrinha. Quase todos os anos lhes dizia que a minha família insistia em dar-me coisas úteis, tais como roupa interior, pijamas e coisas para o enxoval, prendas que não tinha que mostrar, descrevendo com imenso entusiasmo e pormenorizadamente todos os falsos presentes que tinha oferecido à minha mãe, ao meu pai, à minha irmã, à minha madrinha, ao meu padrinho, à minha avó, ao meu avô, à minha tia Mila, ao meu primo Bilo e restante família.</span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-48123528144100853922009-12-02T22:24:00.001+00:002009-12-02T22:26:03.797+00:00Pinheiro de natal<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK-NZnIxnvUXLyVgYAfcOAfMCeRp8Uf9G0CQwot8YNSdhzTMbUt2JpiYXCGW07vOWBUS7ZaEYbrUTyQw_JjicQbGPJAhvIHruLIAevO_kFAPtIQn72es33uZMEluVsr1_K1fZGgC4O5XQ/s1600-h/211s.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5410768615778709538" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 267px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK-NZnIxnvUXLyVgYAfcOAfMCeRp8Uf9G0CQwot8YNSdhzTMbUt2JpiYXCGW07vOWBUS7ZaEYbrUTyQw_JjicQbGPJAhvIHruLIAevO_kFAPtIQn72es33uZMEluVsr1_K1fZGgC4O5XQ/s400/211s.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Costumava ser uma pequena árvore com os ramos simétricos e muito redondinho, muitas vezes surripiado de um pinhal qualquer, cujo tronco era enfiado num vaso com terra e colocado em cima de um banco disfarçado na sala de jantar ao lado do móvel grande.</span></div><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"><br />A Bibi, dava-me todos os anos, bolas de vidro brilhantes de muitas cores para pendurar no pinheiro de Natal, que a minha mãe juntava às bolas e fitas coloridas que estavam guardadas na caixa de cartão rectangular e que pertenciam a enfeites anteriores. Eu só as podia observar, nem pensar em tocar-lhes porque as podia deixar cair e partiam-se, dizia a minha mãe, mas a verdade, é que ela era incapaz ou não sabia como partilhar o imenso prazer que sentia ao adornar o pinheiro com aqueles mágicos objectos. Passávamos uma tarde inteira a travestir o pobre pinheiro, eu sentada no chão ao lado da tentadora caixa, ia dizendo à minha mãe onde podia ficar melhor um ou outro enfeite, aproveitando a sua distracção para ir mexendo nas fitas, nos anjinhos, na manjedoura, e claro, nas proibidas bolas coloridas. A minha mãe dava o toque final a toda aquela maquilhagem com pequenos pedaços de uma substância branca que parecia algodão, que segundo ela, imitava os flocos de neve, que eu nunca tinha visto.</span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-88720477490094105822009-11-29T17:59:00.002+00:002009-11-29T18:14:11.898+00:00O Jesus está a ralhar<span style="font-family:Verdana;"></span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgD8UforMd_wTOSPdJ65Oy-UE6k7rSUfNzAOQbkr9wfuRYmS5ERN5yK9ewSqIXzWGwIuEDeT2RWTIjvV810XfWveU-5scVBN6LdwGoYtp2K2O0N5i0FyYtveR8b0s9h3ckinI39EId_RYM/s1600/210s.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5409589981866905538" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 310px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgD8UforMd_wTOSPdJ65Oy-UE6k7rSUfNzAOQbkr9wfuRYmS5ERN5yK9ewSqIXzWGwIuEDeT2RWTIjvV810XfWveU-5scVBN6LdwGoYtp2K2O0N5i0FyYtveR8b0s9h3ckinI39EId_RYM/s400/210s.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Não percebia porque é que nalgumas noites escuras se viam luzes e se ouviam sons que pareciam pedras aos trambolhões, a minha mãe assustada corria a fechar rapidamente todas as persianas e dizia-me que aqueles estrondos era a voz de Jesus, que estava zangado, e por isso estava a ralhar, e sempre que soava mais um grito de fúria ela estremecia e murmurava de si para si “Ai meu deus… nossa senhora de Fátima nos acuda”. Mas o meu pai não se deixava impressionar com a zanga de Jesus, e vendo que eu me escondia sempre que o céu se revoltava, decidiu abrir uma persiana contra a vontade da minha mãe e sentou-me no parapeito da janela, dizendo-me “Não precisas de ter medo da trovoada, é muito bonito, vou-te explicar o que é…”. </span></div><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"><br />A partir daquele dia, quando havia trovoada, eu e o meu pai saltávamos para a janela para ver as acrobacias dos raios que iluminavam o céu escuro e ouvir os trovões, dava uns minutos ao meu pai para se concentrar e esperava pelo vaticínio, umas vezes a trovoada estava longe e vinha na nossa direcção, outras afastava-se, outras estava tão longe que não se ouvia, outras estava mesmo por cima. Eu, muito atenta, ouvia as explicações do meu pai e chamava a minha mãe para se juntar a nós, mas ela não respondia, escutava aflita as repreensões de Jesus prometendo não voltar a fazer asneiras. </span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-50964205164015407802009-11-27T18:18:00.001+00:002009-11-27T18:19:53.132+00:00As mãos do meu pai<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhM8pjdf5LlXyTUj9Zm_SHYb71Q525vKNyJJao97goHH4aCwXX6ttD4o8uWgjir6F2ATYTZImo9Yf177_BQc1sAMkGnsEc8RxzXI_7yFvlzooV3SEy-qCvUUyDAz_Ap7JOJ-6OYCnj7hgI/s1600/209s.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5408849800979813746" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 287px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhM8pjdf5LlXyTUj9Zm_SHYb71Q525vKNyJJao97goHH4aCwXX6ttD4o8uWgjir6F2ATYTZImo9Yf177_BQc1sAMkGnsEc8RxzXI_7yFvlzooV3SEy-qCvUUyDAz_Ap7JOJ-6OYCnj7hgI/s400/209s.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Gostava das mãos do meu pai, grandes, brancas e muito limpas. Costumava vê-lo cortar as unhas com o corta-unhas que estava guardado na mesinha de cabeceira do seu quarto, e limar as arestas mais angulosas. Não havia pai de nenhuma vizinha que tivesse as mãos tão bonitas como as do meu pai, eu achava mesmo que os pais das minhas vizinhas não tinham mãos, eram homens tristes, desesperados, que sentiam que não sentiam, transformando-se em amputações cambaleantes; enquanto o meu pai ostentava aquelas mãos decididas e vencedoras que se adaptavam na perfeição a tudo em que tocassem, com a certeza de que era capaz de mudar o mundo. A mim bastava-me ter a minha pequena mão envolvida pela sua para que todos os medos desaparecessem.</span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-50761129800676231582009-11-22T20:40:00.002+00:002009-11-22T20:43:05.525+00:00Num fim de tarde em que a Florinda corria para casa<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMtwqvdbNhmfRXme4RU6CiD2wnVY_c5y4tZYh3IRZAE6SzrdGDUTNoIxpsAQnGh7jjwt1pFrbcaOQJ2M9INsklnHrgSLxAkp_sOP0HPk2wRYkMSBBn-5kPn0REQvdILtsUHxf2Rg1Y7F4/s1600/208s.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5407031291480939922" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 393px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMtwqvdbNhmfRXme4RU6CiD2wnVY_c5y4tZYh3IRZAE6SzrdGDUTNoIxpsAQnGh7jjwt1pFrbcaOQJ2M9INsklnHrgSLxAkp_sOP0HPk2wRYkMSBBn-5kPn0REQvdILtsUHxf2Rg1Y7F4/s400/208s.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Esperava ansiosamente a chegada do meu pai com a televisão, que vinha muito bem acondicionada numa grande caixa de cartão grosso de cor bege acastanhada. Em casa já estava tudo preparado para a sua chegada, no quarto do sofá tinha sido colocado o móvel novo onde se colocaria o aparelho, que iria ter um quarto só para si.</span></div><span style="font-family:verdana;"><br /><div align="justify"><br />Logo que a vi gostei dela, parecia uma janela de madeira envernizada, que tinha no canto inferior esquerdo um conjunto de quatro pequenos cilindros pretos que se pressionavam fazendo com que desaparecesse uma imagem e aparecesse outra, como se fechasse e abrisse a janela muito depressa num fim de tarde em que a Florinda corria para casa a avisar a mãe que o pai vinha bêbado; um pouco mais abaixo encontravam-se mais três pequenos cilindros pretos que se rodavam para um lado e para o outro, e que faziam com que a imagem ficasse toda negra ou toda clara e brilhante, como quando o sol batia no vidro da janela e não me deixava ver se a minha mãe estava a dar a volta do túnel terminando com a minha amedrontada espera.</div><br /><div align="justify"><br />Descobri que esta janela especial, de que eu tanto gostava, que parecia ter o poder de conseguir diminuir as minhas dores, afinal não passava de um embuste. Respirávamos as suas imagens para não asfixiarmos quando nos olhávamos. A minha mãe e o meu pai passaram a discutir menos e a distanciarem-se cada vez mais. </span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-54637471696347458692009-11-15T19:01:00.001+00:002009-11-15T19:02:47.790+00:00É menina<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRX518XBgucchEp-ii862KRZk8xAowNV3fRfJBwiljTsE7_uto2URq3HtLZqjqOWRyfadWaywSPW26h2K9DDOTWKs2zt7UZ2o8fgx0u7o0ZezTmKOUU5cHcI_DWakpLnJ6cv7IqO_NPfY/s1600-h/207s.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5404407852725819954" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 296px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRX518XBgucchEp-ii862KRZk8xAowNV3fRfJBwiljTsE7_uto2URq3HtLZqjqOWRyfadWaywSPW26h2K9DDOTWKs2zt7UZ2o8fgx0u7o0ZezTmKOUU5cHcI_DWakpLnJ6cv7IqO_NPfY/s400/207s.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Ao meu pai restava-lhe esperar no pátio, não sabendo o que fazer para que o tempo corresse, decidiu desmontar as peças da motorizada para as lubrificar não conseguindo montá-las sem que sobrassem porcas e parafusos. A parteira interrompeu a charada e disse-lhe “é menina”. Eu tinha acabado de nascer numa tarde quente de Julho, na casa onde os meus pais viviam, na rua do Zambeze. </span></div><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"><br />A minha mãe quando me viu ficou impressionada com a minha fragilidade, não sabendo o que fazer comigo, colocou-me na cama, ao seu lado, e pediu que lhe servissem uma canja porque estava esfomeada. A família e vizinhos, rapidamente ocorreram a casa para conhecer a bebé que acabava de nascer, e comentavam “Que menina tão bonita!”. A minha mãe sorria e pensava para si, “Bonita! Não é nada bonita, tem muitas peles, parece uma velha.” </span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-86685329269717012752009-11-14T16:02:00.002+00:002009-11-14T16:14:11.038+00:00Numa tarde de Julho quando regressava a casa<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhjG_aI178vYKwhrMJbh7J8J4t-7DgESaJTEmPvsUMenf470g70bGB24QZPpLj1eltY9kPto_5AOoyFT6zmpfWbhI2bAp1IU26_uurn7VZTqRk1yyFlg6q5UUr17MuJYvw-3XmuZ9aItk/s1600-h/206s.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5403993304015074066" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 261px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhjG_aI178vYKwhrMJbh7J8J4t-7DgESaJTEmPvsUMenf470g70bGB24QZPpLj1eltY9kPto_5AOoyFT6zmpfWbhI2bAp1IU26_uurn7VZTqRk1yyFlg6q5UUr17MuJYvw-3XmuZ9aItk/s400/206s.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Às vezes tinha dúvidas se estaria viva ou morta, ficava muito quieta e tentava escutar o vaivém do pouco ar que usava, continuava a respirar, estava viva, mas era como se estivesse morta. Quase todos os dias desejava que morresse, porque já não aguentava ver o seu corpo imóvel a apodrecer ao meu lado, evitava tocar naquela carne morna branca amarelada e na cabeleira rasa e desgrenhada. A minha mãe insistia para que eu falasse com a Bibi, a custo colocava a minha cabeça em frente ao seu olhar mortiço e sem saber bem o que dizer a uma moribunda, perguntava-lhe como se sentia. A Bibi mexia os lábios, mas da sua boca não saía qualquer som, desistia deste esforço infrutífero e olhava-me. Eu não necessitava de qualquer palavra sua, bastava-me a voz dos seus olhos que repetia incessantemente tudo o que eu já tinha ouvido milhares de vezes.</span></div><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;"><br />Numa tarde de Julho, quando regressava a casa do liceu, a minha mãe disse-me que a Bibi estava à minha espera, precisava de ver-me antes de morrer. Aproximei-me dela, coloquei a minha cabeça em frente à sua e chamei-a, “Bibi...Bibi...” ela abriu os olhos e fitou-me, e com o maior esforço deste mundo conseguiu emitir uns sons que deveria corresponder a palavras que eu não consegui entender, mas que traduzi por “Gosto muito de ti”. Fechou os olhos e morreu.</span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-43645739704839183072009-11-08T19:34:00.001+00:002009-11-08T19:35:46.189+00:00Lugar seguro<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4qJgYjFa2PlhX4umLBBLb_iNQDqyknDWJisiMw9-Cf1MGqfaZH991Z83kl6H35k-7hVDLc4Ue-oYG4OZU0oAzIJe_k5pvs4M4LA8WjyMFRQr70oSxVi4iIDQRKRrvUtIyDpCQi_EObuY/s1600-h/205s.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5401818763121702306" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 266px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4qJgYjFa2PlhX4umLBBLb_iNQDqyknDWJisiMw9-Cf1MGqfaZH991Z83kl6H35k-7hVDLc4Ue-oYG4OZU0oAzIJe_k5pvs4M4LA8WjyMFRQr70oSxVi4iIDQRKRrvUtIyDpCQi_EObuY/s400/205s.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Ouvia a chuva a cair lá fora, o vento abanava o vidro da janela, as árvores gesticulavam com força, e eu enfiada no meu pijama de feltro acomodava-me entre aqueles lençóis de flanela às riscas partilhados com a minha irmã. No quarto ao lado estavam depositados os corpos dos meus pais, inertes e silenciosos. Nada mais necessitava, em plena felicidade, adormecia. </span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-26266854277638203202009-11-04T22:20:00.002+00:002009-11-04T22:22:36.100+00:00Conquistar o mundo<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh71OzgfvTFuR97E0NfqzJLm3iznudZW_fdv0C3CKAMOLah1Qg38X8Zg4VFqYAuBtXlVCltOcARt4PjkFEL71Injs7Qt2NDCNlrAyv8g1C-mK4146xSKZZ4mQT_lo8dLgIdQjpOHn1VOvM/s1600-h/204s.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5400377393863253090" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 269px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh71OzgfvTFuR97E0NfqzJLm3iznudZW_fdv0C3CKAMOLah1Qg38X8Zg4VFqYAuBtXlVCltOcARt4PjkFEL71Injs7Qt2NDCNlrAyv8g1C-mK4146xSKZZ4mQT_lo8dLgIdQjpOHn1VOvM/s400/204s.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Naqueles momentos sentia que um dia podia conquistar o mundo, guardava muito bem o monte de notas apertadinhas pelo elástico dentro do envelope e com ar seguro e confiante entrava no banco onde as deixaria depositadas. Cada passo, cada gesto, era pensado ao pormenor para que não ocorressem falhas, o objectivo era a perfeição, que levaria o meu pai ao contentamento pleno. Nada me fazia mais feliz do que o orgulho que o meu pai sentia de mim, mesmo sem o explicitar, eu sentia-o, o que me ajudava a crescer e a perder o medo do mundo. </span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-34890470003476554012009-10-29T20:18:00.002+00:002009-10-29T20:34:27.524+00:00Curva da morte<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTd7ZQTi06uuNb8npd3MHaWmx6CEqHOwTQgAI78Qsm7JrWcRej1oGYpTMGKDSt4wESrIzkMglJrFK-Dpxnwiw9gJzaPTeov010Aw2NzGCgxGSDnYUMAVk3Aq_SjoQiUg1RI7zjH4MYjTM/s1600-h/203s.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5398123030204753794" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 260px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTd7ZQTi06uuNb8npd3MHaWmx6CEqHOwTQgAI78Qsm7JrWcRej1oGYpTMGKDSt4wESrIzkMglJrFK-Dpxnwiw9gJzaPTeov010Aw2NzGCgxGSDnYUMAVk3Aq_SjoQiUg1RI7zjH4MYjTM/s400/203s.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Rebatiam-se os bancos da carrinha quatro éle bege e enchia-se a mala, agora maior, de garrafões de cinco litros vazios. Eu acomodava-me no banco dianteiro e partíamos em direcção à aldeia. O meu pai tomava o caminho de Lourosa que era mais curto, mas que tinha muitas curvas, por isso quando regressávamos com os garrafões cheios de vinho fazia o caminho de São João da Madeira, que embora fosse mais longo, era menos sinuoso. Num dia de chuva miudinha, à carrinha bege, deu-lhe para fazer patinagem mesmo a meio da famosa curva, conhecida por curva da morte. Em plena curva rodopiámos, rodopiámos, o meu pai agarrou-me com toda a força como que a querer proteger-me do desconhecido e assim nos mantivemos um tempo sem tempo e sem visibilidade até que a carrinha parou. Quando comecei a ver alguma coisa que fizesse sentido, nada mais tinha para contemplar do que a enorme parede amarela com letras vermelhas de uma garagem a poucos centímetros de mim. </span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-66954832299083828982009-10-23T17:40:00.001+01:002009-10-23T17:46:57.276+01:00Quando for grande vou concordar em tudo com o meu marido<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfEfluz9neHk6BnVs9htKE-A31c6YhMSJFJApAE62tIegK2W9WpvBARoWgCT0qBW7u-PkBh2ttAktc59xtqGv2YLnenkdOF6QAVEvcvQb9Gh5wOE95bGJdewICOd4Nfw0a2I8BUX1eMQw/s1600-h/202s.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5395837883292850002" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 288px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfEfluz9neHk6BnVs9htKE-A31c6YhMSJFJApAE62tIegK2W9WpvBARoWgCT0qBW7u-PkBh2ttAktc59xtqGv2YLnenkdOF6QAVEvcvQb9Gh5wOE95bGJdewICOd4Nfw0a2I8BUX1eMQw/s400/202s.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Mais uma discussão, mais um grito, mais umas palavras atropeladas e voltava tudo ao mesmo, separação de cama e de mesa, e mais uma vez eu e a minha irmã éramos despejadas do nosso quarto porque um dos dois ia ocupá-lo, restava-nos aquele sofá-cama de napa vermelho escuro do quarto da televisão, que nem era o pior de tudo, porque o mais insuportável daquelas zangas era a mudez do meu pai e a verborreia histérica da minha mãe, que durava muitas semanas. </span></div><span style="font-family:verdana;"><br /><div align="justify"><br />Desde muito pequenina que tentava perceber porque é que os meus pais discutiam tanto, não conseguia entender porque é que isto estava sempre a acontecer, mas bem lá no fundo eu achava que a culpa era da minha mãe, só podia ser, porque eu considerava o meu pai um homem maravilhoso, adorava passear e conversar com ele e nunca discutíamos, por isso a culpa era da minha mãe, que não concordava nunca com as suas ideias nem fazia o que ele lhe propunha.</div><br /><div align="justify"><br />Depois desta reflexão pareceu-me que tinha descoberto a solução para as discussões dos meus pais, e até mesmo para minhas possíveis discussões com o meu marido quando fosse grande, que passava pela minha mãe e eu quando fosse grande concordarmos absolutamente em tudo o que dissesse o nosso marido. Desta maneira, achava eu, estava resolvido este problema. Apresentei esta solução à minha mãe, tentando convencê-la da sua eficácia, mas ela nunca me deu ouvidos e as discussões continuaram eternamente, mais tarde, quando eu já era grande, percebi finalmente que a minha mãe tinha razão, a solução que eu tinha arranjado não passava de uma maravilhosa utopia.<br /></span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-17984048525954500962009-10-21T21:33:00.002+01:002009-10-21T21:43:59.594+01:00Se calhar não sobrevivia<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_TKRsjqgk9yy20Fh5z9M1EZnygm-n1PjLkcCWNw6r-lEBqgkFcY0EbbMifGv5WzPFN8fWXg2DfONM7c61kb0yY3-LrO7IzKO7HQ1AFspmYlExCuFFiuPBKIEEYnaGqDPnuNaP22tmbWA/s1600-h/201s.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5395156813591981202" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 296px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_TKRsjqgk9yy20Fh5z9M1EZnygm-n1PjLkcCWNw6r-lEBqgkFcY0EbbMifGv5WzPFN8fWXg2DfONM7c61kb0yY3-LrO7IzKO7HQ1AFspmYlExCuFFiuPBKIEEYnaGqDPnuNaP22tmbWA/s400/201s.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Via a minha mãe com as mãos na barriga e uma cara de dor, doía-lhe ali e não sabia o que era. Do médico tinha medo, mas este nada lhe disse, franziu a testa e pediu para falar com o meu pai. A minha mãe andava triste sem saber o que tinha, mas adivinhando que não seria nada de bom, decidiu parar de tomar as pastilhas Melhoral e de comer, passando a tomar os remédios que o médico receitou e a beber leite, muito leite. Depois do médico ter falado com o meu pai, este veio falar comigo, precisava de me contar o que tinha a minha mãe, tinha oito úlceras no estômago e a situação era grave, se calhar não sobrevivia. Fiquei confusa com este segredo e quase automaticamente rejeitei este vaticínio, afinal de contas a minha mãe continuava a fazer tudo como dantes, a única diferença era não comer, estar a emagrecer e a ficar com menos cabelo, mas as dores estavam a diminuir e além de mais eu não queria a minha mãe morta. Afinal sobreviveu.</span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-82453677305246675142009-10-19T22:27:00.002+01:002009-10-19T22:31:34.028+01:00Banquinho vermelho<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHxBk3a2mjpAKva9S8rUKGOg-dKELR4gIT-G8gigbHqEBRo1C8ghxHe4PBnadCvLPbpCw6R0FVDcpHNLjiMgfQ1opwOKVbPADAAhfLbOAHA0s54uk-TlY3Zm9pR_WHtXli0YGSHxyFQ_Q/s1600-h/200s.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5394426878789837826" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 250px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHxBk3a2mjpAKva9S8rUKGOg-dKELR4gIT-G8gigbHqEBRo1C8ghxHe4PBnadCvLPbpCw6R0FVDcpHNLjiMgfQ1opwOKVbPADAAhfLbOAHA0s54uk-TlY3Zm9pR_WHtXli0YGSHxyFQ_Q/s400/200s.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">De pé em cima do banquinho vermelho com os braços pousados no parapeito da janela o tempo não existia. As sardaniscas brincavam às escondidas nas lousas negras do telhado dos currais que estavam mornas depois de um dia de calor estival, ao longe ouvia-se o latido dos cães e as vozes de chamamentos irreconhecíveis, o choro contínuo do tanque estava sempre presente ladeado pelo tapete amarelo de malmequeres. Eu ali ficava a contemplar o vale rodeado pelas altas montanhas, atenta às primeiras nuvens de fumo que irrompiam das chaminés imaginando as pinhas e a caruma a crepitarem nas lareiras de pedra. Ficava tanto tempo que só as dores e as marcas nos braços me despertavam daquele devaneio. Era como se estivesse a saciar uma fome que não tinha fim e que ninguém reconhecia. </span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-42932736129067753422009-10-16T23:46:00.002+01:002009-10-16T23:48:51.730+01:00Rapaz de companhia<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh10YlLZJlnkBg8ukpN0ptWiSLMs2ZbHRsABuioJyoYOW1X5lxwVg11c6JhyWPhcJfHLyNa55mrLs1wLrOU2QT443cGXEu6lkV1dDN5PpPDJCpGnwTyxq_5mHXWPGXw-C3GhKpxZspboI4/s1600-h/199s.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5393333556958930114" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 275px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh10YlLZJlnkBg8ukpN0ptWiSLMs2ZbHRsABuioJyoYOW1X5lxwVg11c6JhyWPhcJfHLyNa55mrLs1wLrOU2QT443cGXEu6lkV1dDN5PpPDJCpGnwTyxq_5mHXWPGXw-C3GhKpxZspboI4/s400/199s.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">A minha mãe começou a reparar naquele rapaz que espreitava pelo postigo sempre que passava numa das ruas que fazia a pé quando ia trabalhar, mas decidiu não dar importância, até que o rapaz abandonou o refúgio e passou a estar presente na rua, a mostrar-se, mas a minha mãe continuava o seu caminho fazendo de conta que não o via. O rapaz decidiu dar um passo mais arrojado e passou a cumprimenta-la: - Bom dia menina - sussurrava com voz melosa. A minha mãe ignorava-o. Os dias passavam e o cumprimento matinal mantinha-se até que um dia o rapaz perguntou: - Posso fazer-lhe companhia? - A minha mãe não respondeu e o rapaz passou a segui-la até ao trabalho. Passaram-se dias, semanas e o rapaz continuava a segui-la, assim como a esperá-la à saída do trabalho. A minha mãe já sem saber o que fazer com a insistência do rapaz disse-lhe: - Eu não quero nada consigo por isso deixe de me seguir - e o rapaz respondeu - Não tem mal menina, mas como vamos para o mesmo lado faço-lhe companhia. A minha mãe tentava de todas as formas fugir ao rapaz, mas por mais artimanhas que usasse ele não desistia, tendo continuado a acompanhá-la. </span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-34945371666995223192009-10-14T23:16:00.002+01:002009-10-14T23:22:26.088+01:00As férias grandes<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgO4sfeuBFnS9ndCn8MlJiNBeFf1HOrRicvb5HfGxeOxKrU1YILt0IQi9FSKsyUZ2J1NRXYVG3pow02RcK5hRQQ_bFipvQPZpCIZNRfxgP8Dbc7GJf3ytzVRvzLef47L0Nf8evhCwl5KY/s1600-h/198s.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5392584580352147170" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 374px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgO4sfeuBFnS9ndCn8MlJiNBeFf1HOrRicvb5HfGxeOxKrU1YILt0IQi9FSKsyUZ2J1NRXYVG3pow02RcK5hRQQ_bFipvQPZpCIZNRfxgP8Dbc7GJf3ytzVRvzLef47L0Nf8evhCwl5KY/s400/198s.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">As férias grandes eram mesmo grandes e eu senti-as insuportavelmente grandes. A minha professora, a dona Gonçalina, dava-nos deveres para fazer durante as férias, tais como cópias, redacções, contas e desenhos, que eu fazia em pouquíssimo tempo e como depois ficava sem nada para fazer, voltava a repetir as cópias com os desenhos e as redacções. Muitas vezes repetia três e quatro vezes os mesmos deveres, tentando sempre fazer a letra mais bonita e os desenhos mais espectaculares, achando que iria impressionar a minha professora e colegas depois das férias.</span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-49439655835923462792009-10-13T22:28:00.004+01:002009-10-13T22:39:18.392+01:00Recados<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHjDWDhyphenhyphen9SV2WyYfRY_DyKH9P6l0_S-pC1Uc9UF_JrJu61FnPdgQzmypj15IK9JYPkFscYzoLVvyZ4xlSL3NsgRLq5FIkmjqJ9u9DD6k1iCMNsqdxTqi7UEmmF4o5f7xGaFHBi2w32xiw/s1600-h/197s.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5392202382408160386" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 243px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHjDWDhyphenhyphen9SV2WyYfRY_DyKH9P6l0_S-pC1Uc9UF_JrJu61FnPdgQzmypj15IK9JYPkFscYzoLVvyZ4xlSL3NsgRLq5FIkmjqJ9u9DD6k1iCMNsqdxTqi7UEmmF4o5f7xGaFHBi2w32xiw/s400/197s.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Quando a minha mãe me mandava ir à loja do senhor Manuel comprar três ovos ou meio quilo de cebolas ou dois limões ou qualquer outra coisa que lhe fazia falta era uma alegria. Saía disparada de casa aos saltinhos a repetir baixinho o que ela me tinha pedido e com o dinheiro bem apertadinho numa das mãos para não o perder. A loja do senhor Manuel tinha duas portas e eu gostava mais de entrar pela porta que me levava até aos caixotes das frutas e dos legumes do que pela outra que dava para um balcão onde se viam os bacalhaus, chouriços e toucinho em salmoura, porque de frutas e legumes eu era uma entendida, tinha aprendido com o meu avô na aldeia como se plantavam e colhiam, enquanto que de bacalhaus e toucinho nada sabia e também não gostava do odor desagradável que emanavam. Na loja do senhor Manuel esperava pela minha vez para ser atendida, muito caladinha observava tudo o que se passava ao meu redor não me atrevendo a reivindicar a minha posição quando as senhoras astutas faziam de conta que eu era invisível e passavam à minha frente. Esperava pacientemente que o senhor Manuel me perguntasse o que queria, recitando com exactidão o pedido da minha mãe. Regressava a casa pelo caminho do túnel porque tinha ido pelo caminho da esquina, aos saltinhos, levando numa mão o recado e na outra o troco bem apertadinho. </span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-65803960072603930522009-10-07T22:53:00.000+01:002009-10-08T16:01:56.072+01:00Tapete de pétalas<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBTOO11i-s-zyoVla6-ElqWGZ1Kqt37inXPP-AqFlMdUtLlUNjrQjY4m74NSQLhZvVLp5grIsMkyiX9Vwy9_TKg8iRNyIyUuVPi7_DFPa5YrWoFrNhsgpdnUDsTC9dUInLgI4MoUMdWq8/s1600-h/196s.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5390244490403068178" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 266px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBTOO11i-s-zyoVla6-ElqWGZ1Kqt37inXPP-AqFlMdUtLlUNjrQjY4m74NSQLhZvVLp5grIsMkyiX9Vwy9_TKg8iRNyIyUuVPi7_DFPa5YrWoFrNhsgpdnUDsTC9dUInLgI4MoUMdWq8/s400/196s.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Apanhava camélias e rosas que depois desfolhava e espalhava pelo caminho e entrada da casa dos meus avós, ficando um tapete de pétalas coloridas muito bonito. Ouvia-se um sino ao longe e em casa a minha avó e as minhas tias davam os últimos retoques na mesa da sala de jantar. O som do sino aproximava-se e quando à distância de um espreitar por entre os pinheiros se via a comitiva, corríamos todos para dentro da sala e colocávamo-nos em sentido à volta da mesa onde se encontrava o pão-de-ló, as amêndoas de licor e de chocolate e o vinho, aguardando o grupo de homens que repentinamente irrompiam pela sala empunhando uma cruz com o cristo que chegavam à boca de cada um de nós para que a beijássemos. Depois da ronda de beijos o meu avô dava uma oferenda ao padre que era sempre dinheiro e oferecia a comida e bebida que se encontrava exposta na mesa que geralmente recusavam. Da forma rápida que apareciam também desapareciam, restava o perfume das pétalas pisadas. </span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6782650313599291148.post-39460612672828546392009-10-06T21:43:00.002+01:002009-10-06T21:46:04.895+01:00Arroz de feijão malandrinho<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtnY0TI66YupHzchs2trbvSwwULvQq-AJ75ONv4s_pv4IYkcR9PIUSsJ8_jvu4GpYEOyIa4rzBGWBA9Rslm-_R-XJlkQ8IBAKFKTEn5y4QqABn-01tUbjCCmsuJsmZ9QEXB_g6B0ZHgJ8/s1600-h/195s.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5389591067763793074" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 311px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtnY0TI66YupHzchs2trbvSwwULvQq-AJ75ONv4s_pv4IYkcR9PIUSsJ8_jvu4GpYEOyIa4rzBGWBA9Rslm-_R-XJlkQ8IBAKFKTEn5y4QqABn-01tUbjCCmsuJsmZ9QEXB_g6B0ZHgJ8/s400/195s.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:verdana;">Gostava muito de fanecas fritas mas não gostava nada do feijão que nadava no arroz malandrinho que a minha mãe fazia para acompanhar, por isso, comia cuidadosamente o arroz separando para a beira do prato cada feijão que aparecia. Os meus pais elogiavam as muitas qualidades dos feijões que eu não queria saber, nem sequer lhes tocava com a pontinha da língua. Numa das muitas refeições de separação de feijões o meu pai disse-me em voz firme e que não dava para contestar: “os feijões são para se comer, não quero ver nem um na beira do prato”. Resignada, apanhei dois feijõezinhos com o garfo e levei-os à boca começando muito lentamente a mastigá-los e quanto mais os mastigava parecia que mais tinha para mastigar e por mais que tentasse engolir aquela massa farinhenta que tinha na boca, não era capaz, dava-me vómitos. E ali fiquei, muito infeliz, a mastigar com os olhos postos no monte de feijões que ainda tinha para comer, até que a minha mãe disse ao meu pai: “ó Zé deixa lá a menina, não vês que ela não consegue comer os feijões”. O meu pai aceitou a sugestão e eu não voltei a comer feijões. </span></div>Adelaide Gomeshttp://www.blogger.com/profile/15040138773227352014noreply@blogger.com2